sexta-feira, 16 de setembro de 2016

o Prometeu pós-moderno

nesse instante acabo de perceber
que perdi
a centelha da vida
o improviso, a capacidade de
julgar o certo e o errado
vivo cambaleante
como o monstro de Frankenstein
talvez devesse ir viver
nas montanhas, onde não poderei
ferir ninguém

mas então eu logo percebo algo -
sempre vivi nas montanhas
procurando o fogo
Prometeu deve ter falhado comigo
mas aqui é seguro, em meio ao
cinza
em meio às cinzas desse fogo
faço parte de uma nova safra
de homens vazios

terça-feira, 13 de setembro de 2016

agora que as flores desabrocham

será que eu posso me dar ao luxo
de seguir meu coração?
enquanto as palavras engasgam
enquanto eu me torno frio
e distante
enquanto meu coração silencia
ainda posso viver?

nunca me senti assim antes,
nunca estive tão certo
e continuo tropeçando
nunca estive tão perto
agora que as flores desabrocham
e meu coração, tão frio,
encontra o calor
enquanto eu observo seu sorriso
como uma flor

sexta-feira, 15 de abril de 2016

meu amor, meu vício

sozinho novamente, com as palavtas
borbulhando no peito
como um veneno tentando
ser expelido - e minha droga é você
minha droga é o amor, o que
fazemos com ele
e o que ele faz conosco
minha droga é o meu amor

tudo o mais se torna estúpido
o cheiro que sinto é o seu, o gosto
que sinto é o seu
e o seu toque é a única coisa
capaz de me salvar
da demência, de mim mesmo
enquanto olho em seus olhos

venha, brigue comigo
diga que não presto, que não sei amar
grite comigo enquando penetro você
grita e molhe a cama, meu bem
eu sei que você me ama, que dessa vez
é pra valer
então faça seu gozo valer a pena

derrube as paredes, inunde o quarto
e mande todos à merda

domingo, 17 de janeiro de 2016

a vida em reticências

a cada dia que passa vou me
tornando mais alienígena
e comparo minhas experiências
com alguém normal, habitante
deste mundo
ouvir Beethoven e escrever poemas
e ir às lágrimas
tentando entender
ou melhor, começando a
compreender

que qualquer migalha, quando
a vida o aleijou
destruiu e contorceu seu corpo
como um pequeno de pano
ou
um boneco vodu dos deuses
qualquer ínfimo sentimento
ou sensação, qualquer espécie
de vida
é de causar espanto, ao menos
para mim

da nota mais medíocre de uma
sinfonia
da palavra menos inspirada de
um poema
ao amor mais ridículo e unilateral
pela pessoa que não merece
e a relação que não existiu, ainda
que a ame, ainda que ela esteja
curtindo a vida com outro;
vida da qual você nunca fez parte

ainda que você não entenda nada
de relações
ou da vida humana, suas regras
e funcionamento normal
ainda assim
é de admirar ainda ter palavras
e estar vivo
ainda que apenas em palavras

domingo, 10 de janeiro de 2016

as vozes que emudecem

dois pólos, sul e norte;
leste e oeste;
mulheres de cabelos coloridos
e clássicos da literatura francesa;
Beethoven e death metal;
sóbrio e bêbado, morto e vivo;
terreno e celeste;
nunca na terra, nunca no céu;
talvez no inferno?

solidão, cada lado distante;
sozinho na multidão com palavras
na mente e reticências na língua;
posso beijá-la com poemas?

sozinho com você, mas com
uma multidão na cabeça;
você pode ouvi-los?
tanto barulho na mente, eu poderia
escrever uma sinfonia.

você pode ver o brilho das estrelas
e o universo girar?
ou talvez seja apenas minha cabeça
sob o efeito do álcool, tão viva;
quando desço, ouço o rock e vejo
as mulheres;
estou sóbrio novamente, mas
ainda só e mudo pelas vozes;

as
vozes
se
perdem
mas
as
palavras
não

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

destruição mútua assegurada

a mesma habilidade que alguém
tem para amar
é quase complementar à habilidade
de matar
isso é realmente curioso, como uma
noite podemos dormir abraçados
ao nosso amor
e na outra destruí-lo
humilhá-lo

matamos o amor, destruímos sua
imagem diante de nós
como uma bomba atômica explodindo
tão simples, tão elementar
apenas átomos
se tocando
e toda a vida está ameaçada
americanos correm para um lado e
russos para o outro

nessa hora, todos querem o amor
enquanto estão pegando fogo
agarrados ao destroços de suas vidas
transformada em areia, tudo e todos
como areia
nessa hora, percebemos que somos iguais
tão próximos
então explodimos
inexoravelmente afastados

somos todos sobreviventes
de desatres atômicos
somos as baratas remanescentes
comendo migalhas
para sobreviver