domingo, 17 de janeiro de 2016

a vida em reticências

a cada dia que passa vou me
tornando mais alienígena
e comparo minhas experiências
com alguém normal, habitante
deste mundo
ouvir Beethoven e escrever poemas
e ir às lágrimas
tentando entender
ou melhor, começando a
compreender

que qualquer migalha, quando
a vida o aleijou
destruiu e contorceu seu corpo
como um pequeno de pano
ou
um boneco vodu dos deuses
qualquer ínfimo sentimento
ou sensação, qualquer espécie
de vida
é de causar espanto, ao menos
para mim

da nota mais medíocre de uma
sinfonia
da palavra menos inspirada de
um poema
ao amor mais ridículo e unilateral
pela pessoa que não merece
e a relação que não existiu, ainda
que a ame, ainda que ela esteja
curtindo a vida com outro;
vida da qual você nunca fez parte

ainda que você não entenda nada
de relações
ou da vida humana, suas regras
e funcionamento normal
ainda assim
é de admirar ainda ter palavras
e estar vivo
ainda que apenas em palavras

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