terça-feira, 30 de dezembro de 2014

falando com mortos

acho que no fundo me enxergam
como um grande sábio
não como um velho tarado
não sou velho, nem um pouco
mas a proximidade com a morte
me dá uma certa autoridade
e eminência

segredos me são confiados e pecados
são expiados
{menos os meus
afinal, quando se fala nos ouvidos
de um morto
se fala para o ar

sábado, 20 de dezembro de 2014

bonecas de porcelana

ainda estou para conhecer
uma mulher que fique
pois só conheço as que
vem e vão
como miragens

deve haver algo no meu rosto
que me faça especialista
em assuntos da pior espécie
até mim vem as desesperadas
e perdidas

as jovens querem um pai
as mais velhas, com seus filhos
querem um divertimento
são todas frágeis como
bonecas de porcelana

trocaria a qualquer hora
sexo por amor
e nem fodo tanto assim

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

acho que eu precisava de companhia

não sabia o que o estava acontecendo
o que ainda podia acontecer, mas
continuava fazendo acontecer
a paixão tinha acabado
talvez fosse amor, não sei

de repente estávamos revivendo
um passado pela metade
como mortos invocados para
um último encontro

talvez isso fosse amor para mim
não o grande amor dos poetas
mas alguém para dividir
a escuridão, a solidão

ainda que não fizéssemos mais sexo
precisávamos de um amigo
enquanto nos olhávamos
sem saber o que dizer

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

os carros se moviam com a batida do coração

não saberia dizer se aquilo
era amor, enquanto eu via
os carros passar
e desaparecer ao longe

observava tudo em silêncio
ciente de que palavras só estragariam
o momento
estava totalmente consciente
com o brilho da embriaguez

tudo fazia sentido, o amor existia
enquanto os carros passavam e
as pessoas andavam em silêncio
como seus corações

me senti enjoado
queria pegar um daqueles carros
e
sumir

o silêncio era ensurdecedor

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

as coisas belas

sexo e bebida não eram
coisas belas
ela fazia parte de uma geração
muito prolificada
como vendedores de imagem

já devem ter visto
eles estão por todo lugar
e os feios, feios humanos
eram como animais

nós porcos, felizes porcos
rolando na imundície
nascidos no solo sujo
jamais seríamos belos

e eles, tão lindos
jamais viverão

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

conversando com os amigos

para todos aqueles amigos que
não me conhecem, devo ser
tímido
um cara sem assunto

afinal
como ele pode não entrar
na competição?
como sua voz
não luta para ser a mais ouvida
e ter a razão?

ele concorda
sorri
mas parece
que está em outro lugar
tendo outras conservas
com pessoas mais interessantes

sim, é isso mesmo
tenho ótimas conversas
com as pessoas que habitam
minha mente

sábado, 22 de novembro de 2014

amor digital

em busca de amor digital
instalei o Tinder
e dou o coração para todas
que tenham cara de foder bem

vejo as mulheres meninas
as senhoras siliconadas
são bonecas, com certeza
e passo de uma em uma
como num mostruário
avaliando suas condições

clico nos corações digitais
tentando dar-lhes vida

clico nos corações
como se quisesse fazê-los bater
então percebo
que é o meu coração

sou um homem de lata
procurando o coração

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

nenhum Bukowski

já devem ter percebido
em quem me inspiro
escrevo esses poemas
tento torná-los meus

não sou tão perspicaz
tampouco tão safado
mas sou tão louco
e também
um bocado inteligente

escrevo esses poemas

19h50 e nada pra fazer

tenho uma ex
a dos cabelos de muitas cores
que mora a alguns quarteirões
penso em ligar
mas essa mulher acabou comigo
tem uma vida fodida
e não temos mais assunto

ela tem um sorriso incrível
o sexo era ótimo
disse que fui o melhor dela
disse que me amava
então terminou comigo
chorei como um bebê
e tomei duas doses de Jack

o objetivo é encontrar outra
com quem o sexo seja uma merda
e que me odeie
talvez assim dê certo

existe outra, sempre outra
mas essa é pior que a anterior
louca
mais louca
sempre são

acho que nunca mais vou foder

domingo, 9 de novembro de 2014

Karajan é um animal

quem diria que
ouvir Beethoven
daria sentido às minhas caminhadas na mata
quando criança
sozinho em meus pensamentos
e tentando entender
os sons
e
as cores
ao meu redor

quem diria que
ouvindo Beethoven
veria as estrelas lá no alto
girando na sinfonia universal
mesmo com o céu noturno
repleto de nuvens

quem diria que
ouvindo Beethoven
lembraria da mulher dos cabelos de muitas cores
seu corpo sobre o meu
os cabelos refletindo o seu humor
e todo dia
uma nova cor

sábado, 8 de novembro de 2014

dormir é como morrer

sexta-feira, meia-noite
estou em casa
ouvindo Mozart

tenho sono, mas
fechar os olhos
é como morrer
coloco a Sonata do Luar
Beethoven

ganho mais alguns minutos
ou
deixo de perder outros

a sonata atinge seu clímax
enlouquecida
como o coração batendo
louco
antes de gozar

ela termina
a noite vira dia, indiferente
os loucos gritam lá fora
minha alma grita

dormir é como morrer

domingo, 2 de novembro de 2014

mais um domingo de finados

escrevo em nome de todos
todos que desperdiçam seus domingos
os que esperam por algo
que nunca vem

são estes os verdadeiros finados
abrigados da chuva
lá fora
e dos ventos

que não estão bebendo
fodendo
ou os dois, de preferência

são eles os verdadeiros finados
e talvez os ventos
e a chuva, comuns destes dias
não são dos mortos
mas dos vivos

é domingo
a cidade fantasma, cheia de
túmulos
das almas vazias

e sonhos despedaçados
que vagueiam por aí

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

amor e putas

não entendo muito de amor
mas entendo de sorrisos

como aquela pessoa

do outro lado
faz que eu me apaixone?

não sei quem é
o que é
amor? acho que não
não acho que é amor
o que quero fazer com ela

é amor querer fazer de uma mulher
uma puta?

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

loucas

maldito computador
com suas pernas
sorrisos
e tetas

é um desfile
para todos os gostos

decotes generosos
lábios cheios
de veneno

loucas
todas elas
loucas

adoro loucas
elas me adoram
acho que nasci para roubar
seus suspiros
enquanto roubam o meu