terça-feira, 28 de setembro de 2021

multidão

 entro e saio do Instagram

as mesmas postagens, só mudam a ordem,

ledo engano,

eram as mesmas postagens;


vejo meus sonhos se dilacerarem,

a mulher que amo, perdida,

seu rosto se misturando com

meu novo amor;


fracasso e decepção, não há

ilusão que perdure,

meu amor não encontra solução,

seu rosto(s) é uma multidão.

terça-feira, 23 de março de 2021

aquele cuja vida é um inferno

era pra eu ter uma banda de rock,

noites de relações efêmeras

e bebedeira sem fim;

era pra eu viver na noite,

rodeado por amigos, ou sozinho,

fumando um cigarro;

mas não era o que os deuses

queriam pra mim,

a mim eles escolheram a dedo

e disseram "esse é aquele cuja

a vida será um inferno, aquele

em tudo irá cortar e fazer sangrar,

aquele que será deixado

para morrer";

é como tem sido desde então,

um desígnio de poder irresistível,

entre eu e a vida,

diante do qual só posso me ajoelhar;

mas um dia irei ter com eles,

farei a minha fúria ser ouvida

e os céus tremerão, chamarei por

seus nomes e todos saberão de seus

crimes;

então, e somente então,

eu terei paz.

terça-feira, 16 de março de 2021

a última noite

é tarde da noite

e ela chega sem avisar,

molhada pela chuva;

bebemos e conversamos

a noite toda,

como se fosse a primeira vez,

risos e música no ar;

nos deitamos ao amanhecer,

eu digo "que louco nos encontrarmos

essa noite", ela responde

"eu sempre vou te encontrar"

e me abraça;

poderia ser assim, um último

encontro, mas jamais será;

a doce face do amor se transformou

em desprezo,

e nada do que dissemos era verdade,

foram apenas palavra trocadas

na noite,

palavras que não viram a luz do dia;

tudo o que dissemos sentir sumiu

com a última estrela no céu noturno,

numa noite com risos e música,

e você nos meus braços.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

o tempo e eu

só o que me sobrou é tempo,

dias intermináveis e solitários,

sem ela e sem ninguém;

durmo e acordo sem nada mudar,

um dia é exatamente igual ao outro,

os quais fico torcendo para

terminarem;

não recebo nenhum sinal,

nem mensagem de que estou vivo,

somente indiferença;

acho que não fazer mais falta

é o mesmo que morrer.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

meus votos

faltam minutos para o ano acabar

e meu pensamento se volta a ela,

com quem passei duas noites

como essa,

quando meu sangue ardia em chamas

e eu era cheio de paixão;

agora virei essa coisa ridícula

que come, caga e chora,

por tudo que perdi, por ela

e por mim;

se ainda temos algo em comum,

é o inferno que são nossas vidas,

o que ela fez da minha

e do qual não consegui salvar ela;

mas onde quer que ela esteja,

com quem ela estiver,

desejo a ela um feliz ano novo,

e meu mais sincero vá à merda.

domingo, 8 de novembro de 2020

um dia, eu

tenho me sentindo um psicopata

nos últimos tempos,

vou a festas de pessoas estranhas

e as observo em seu habitats,

perdidas todas elas, mas não

mais do que eu;

sorrio, tento parecer normal,

danço conforme a música,

mas sou uma marionete sem titereiro,

e não há nada por trás nem

por dentro;

falo com mulheres do passado e elas

percebem facilmente o que me tornei,

loucas todas elas, e não me

dão nenhuma esperança;

e não há futuro, só pessoas e seus

rostos e fantasias decadentes,

arruinadas todas elas, e não há

um olhar familiar;

mas não é verdade, esse tempo todo

estive falando de mim,

da minha vida arruinada e do meu

passado agora apodrecido,

o qual se tornou a minha vida;

e não há o que lamentar,

eu vivi e tenho histórias para contar,

mas às vezes esse passado

é pesado demais, e me lamento,

lembrando que um dia eu vivi.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

a verdade que não admitimos

voltei a falar com ela e

sinto uma vontade de viver

a qual não estou habituado,

e não sei se leio, se ouço

música ou lhe digo tudo

que me vem à mente;

e ninguém entende, dizem

que estou louco,

que vou me magoar e devem

estar certos;

mas eles não entendem, como

não entendem o que Dylan

sente ao compor,

o que Hesse sentiu quando

escreveu o Lobo da Estepe;

eles não entendem, como nunca

entenderam, que toda obra

morre quando terminamos com ela,

seja uma canção, um livro

ou uma mulher;

e há beleza no fim, seguimos

vivendo e nossas obras também,

por vezes até as reencontramos

e agimos como se não fosse

nada demais, porque somos durões;

é quando eu percebo que nenhuma

obra, nem a mais bela delas,

nos pertence,

mas jamais as deixaremos saber,

nem enxergar as nossas lágrimas;

as malditas jamais nos deixariam

em paz.