sábado, 12 de setembro de 2015

fino como um pedaço de papel

às vezes eu me sinto fino como
um papel
apenas uma impressão
vazia ao toque
e meu corpo está na verdade
noutro lugar, noutro planeta e
tentando fazer contato
minha voz chega do outro lado
emudecida pela estática

suas mãos me atravessam: minha
forma fantasmagórica enfraquece
a cada minuto
não temos tempo, nunca tivemos
o tempo todo eu não estive aqui
e ao tentar ficar (só mais um pouco)
me fixei ao vazio

estou sozinho lá fora no nada e vejo
sua imagem sumir (indo
e voltando)
o tempo acabou e preciso voltar
a ponte entre nossos mundos
está se fechando
quero lhe dizer adeus, meus lábios
se movem
mas não produzem som
Deus, quero beijá-la

estou sendo repelido e puxado
de volta
então, você some
eu volto e
a ordem é restaurada
você, no seu mundo com bilhões
de pessoas
e eu, no meu mundo de um só
habitante:
você.