Tem dias que se resumem a cagar
e analisar o pau
E perguntar: "O que houve, camarada?
Por que esse abatimento?"
Mas ele não responde, só fica ali parado
Com seu ar zombeteiro
Rio sozinho e penso na noite passada
A velha pontada no peito, a decepção
E a vontade de me socar
O dia passa, monótono e
quente
Decido sair à noite, dar chance ao
acaso
Afinal, ele que nos uniu
E penso: "Podíamos fingir uma dupla
amnésia, fingir que somos estranhos -
que ainda temos uma chance"
"Cerveja", eu penso e bebo uma
De olho na garrafa de cachaça
Então, escrevo após um bloqueio
e olho a chuva lá fora
Escrevo sobre a dor que você botou no
meu peito, da qual me alimentei e bebi
Descendo na minha garganta seca
Sua paixão, seu carinho
Seu sorriso
Seu corpo relaxado junto ao meu
Enfim, em paz
"Eu amo essa mulher. Acabo de foder
com a minha vida", pensei com ela
nos braços
Ainda estou em casa, vejo a chuva
como um sinal
Hoje é dia de beber em casa
E lembrar, desejando estar com você
Prometemos ficar longe um do outro
Porque não se vive de memórias
Porém
ainda a sinto lá, abraçada em mim
Mas você
Você estava dormindo, com seu desejo
atentido
Seu desesperado desejo de ser amada
E o meu, de amar
Mas eu permaneci acordado, você dormiu
e nunca mais acordou
"Acorde, querida. Acorde
e lembre-se"
Porque eu ainda estou esperando